segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A ARTE É UMA PERIGOSA ARMA




Picasso disse uma vez que "a arte é uma mentira que nos revela a verdade", o desfile da Mangueira usou dos dotes artísticos, contagiou com a bateria e tudo o mais. Usou a plasticidade, a arte, as armas das estética. Mas não conferiu o que o pintor espanhol havia dito, pois não revelou verdade alguma, pelo contrário, escondido atrás de tudo aquilo estão verdades complicadas de uma cidade que quer unir secretarias (o que é um retrocesso nas políticas culturais), assume  pra si dívidas desnecessárias, tem vereadores aumentando seus salários de modo que não condiz com o quanto contribuem com suas funções públicas, e mais um monte de coisas que vários sabem ou desconfiam (ah sim, como os buracos, os enormes buracos). A Mangueira usou a arte e escondeu a verdade.

Não sou um puto panfletário que acha o carnaval uma coisa ruim, pelo contrário COM CERTEZA acho que o povo precisa de circo, se não achasse isso, agiria contrário à minha profissão. Sendo assim, AMO a cultura popular, adoro o carnaval, adoro o samba. Mas, infelizmente, não gosto quando a grana de amigos, colegas, minha própria e de familiares é empregada em coisas que nem imaginávamos que seria.

Desfile realmente bonito o da Mangueira, os carros, as fantasias, nossa! Esteticamente foi muito legal, mas a verdade atrás dele estava complicada. Falaram da busca do ouro (legal, afinal foi o que motivou os paulistas), suavizaram a perseguição e dizimação dos povos indígenas (lembro de quando as escolas de samba tentavam denunciar certas malezas sociais, lembram do cristo proibido de Joãozinho 30?). Falaram da cabeça de pacu do bolo de arroz (legal também!). Mas por outro lado, o tal do Jequitibá falado tantas vezes, mas na realidade tão poucos cuiabanos vêem os jequitibás; nossos loucos favoritos (Maria Taquara, Zé Boloflor) perderam lugar para a noiva fantasma, que, diga-se de passagem é uma lenda meio genérica, não é? Nem mencionaram o Siriri e o Cururu? E a manga? Ainda mais se tratando da mangueira, achei que isso faria sentido. E isso nem foi o maior dos problemas, o problema maior foi o uso da verba pública que foi destinado para uma escola divulgar o nome da cidade, quando o CineTeatro, que foi fechado por doze anos, custou dezenas de milhares de reais para ficar pronto, abriu com varas de iluminação que não desciam (era necessário uma escada enorme para afinar a luz, enorme mesmo), acho que até desceram depois, mas após dois anos aberto, voltou a ter as portas fechadas.

Enfim, como diz um amigo "Me incomodo sim de um show público trazer XItãozinho e Xororó para dar um show. O cachê deles pagaria inúmeros trabalhos direcionados à um processo muito mais transformador do ponto de vista estético, cultural e social."

Lindo o desfile da Mangueira, poderia ter sido financiado de outra forma, mas foi lindo! Ainda que os artistas de Cuiabá fiquem muuuuito tempo sem receber seus pagamentos das Secretarias Municipal e Estadual de Cultura, foi lindo! Ainda que a verba para incentivos culturais aos próprios artistas cuiabanos só diminua a cada ano, foi lindo! Ainda que os espaços culturais fechem ou fiquem extremamente abandonados (como o Espaço Cultural Silva Freire), foi lindo!

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